Quando rejeitaram meus sonhos pela segunda vez, depois de terem sido remendados de qualquer jeito e eu ter tentado os empurrar à força garganta baixo, cheguei ao ponto em que resolvi guardá-los o mais longe possível de mim mesma, para que não causassem mais nenhum tipo de estrago.
Como uma vida sem sonhos não é uma vida, precisei colocar outros no lugar dos antigos. Esses agora mais lógicos e óbvios, com mais retas e números, desses que se encaixam com qualquer pessoa, desses que não precisam de outras pessoas para que se realizem. Me acostumei com eles e me esqueci dos outros. Vez ou outra me lembrava vagamente de alguma coisa, mas como sempre vinham acompanhados de alertas de sonho errado, não fazia diferença.
No entanto, de uns tempos pra cá, algo muito estranho aconteceu. Os sonhos voltaram, um a um. Sem motivo ou explicação, alguém os coloriu de volta, como se conhecesse, há anos, a cor de cada um deles. E como quando limpamos nosso quarto e nos deparamos com coisas que nem lembrávamos mais que tínhamos, comecei a perceber neles detalhes que eu não recordava mais.
E agora cada vez que ele se espanta com um dos meus sonhos, por se parecerem com os seus, eu levo um susto ainda maior, por de alguma forma alguém os conhecer tão bem. E é por isso que agora sorrio tanto, pois uma vida sem sonhos não é nada, mas uma vida com os sonhos certos é tudo!