Você precisa fazer alguma coisa, as pessoas dizem. Qualquer
coisa, por favor, as pessoas dizem. O que não dá é pra ficar assim. Nem que
seja piorar, nem que seja enlouquecer. Olho o rosto das pessoas. Tem os ossos,
dai tem a parte de dentro. Tem os olhos e tem o fundo dos olhos. Da boca saem
esses sons. De repente alguém encosta em mim. Pra perguntar com o quentinho da
mão se estou ouvindo e entendendo. Sorrio e torço pra pessoa ir embora.
Torço
pra alguém chegar, só pra torcer bem pouquinho por algo. Mas dai a pessoa
começa a falar e torço pra pessoa ir embora. Não tem o que fazer, não tem o que
dizer, não tem o que sentir. Sou uma ferida fechada. Sou uma hemorragia
estancada. Tenho medo de deixar sair uma letra ou um som e, de repente,
desmoronar.
Quando toca uma música bonita, minha ironia assovia mais alto. Um
assovio sem melodia. Um assovio mecânico mas cuidadoso, como tomar banho ou
colocar meias. Outro dia tentei chorar. Outro dia tentei abraçar meu
travesseiro. Não acontece nada. Eu não consigo sofrer porque sofrer seria menos
do que isso que sinto. Tentei falar. Convidei uma amiga pra jantar e tentei
falar. Fiquei rouca, enjoada, até que a voz foi embora. Tentei aceitar o abraço
da minha amiga, mas minha mão não conseguiu tocar nas costas dela.
Não consigo
ficar triste porque ficar triste é menos do que eu estou. Não consigo aceitar
nenhum tipo de amor porque nenhum tipo de amor me parece do tamanho do buraco
que eu me tornei. Se alguém me abraçar ou me der as mãos, vai cair solitário do
outro lado de mim (...).
Tati Bernardi
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