Pensamentos, fones de ouvido e olhos admirando o teto do quarto. Ela poderia ficar assim por horas. Ela se sentia diferente, estranhamente diferente. Tira os fones, se levanta e se olha no espelho. E ali está exatamente o mesmo reflexo de sempre. Mas por que parece diferente, então? Pega algumas fotos antigas e se vira novamente para o espelho. É, quem sabe não seja exatamente o mesmo reflexo. Analisa melhor as fotos e o reflexo, trocando o olhar de um para o outro várias vezes. Cabelo, corpo, rosto, roupa, maquiagem. Um sorriso. Isso é bom. Estar diferente era bom, estranhamente bom.
De repente, um barulho a tira de seus devaneios. É seu celular avisando que uma nova mensagem acabou de chegar. Ela esquece as fotos e o espelho. Na tela o nome que ela queria ler. Seu coração dispara, mas seus pensamentos não a deixam apertar o botão ok. Ela larga o celular na cama sem ler o que aquele nome queria lhe dizer. Se encosta em algumas almofadas que estavam jogadas ao pé da cama e olha mais uma vez para o seu celular. Joga uma almofada em cima dele. Por que estava fazendo isso? Ela não sabia e também não se importava.
Sentada ali ela podia ver seu reflexo no espelho. Não era o mesmo reflexo que estava ali a alguns minutos atrás admirando sua própria mudança. Mas também não era um reflexo pior. Era apenas mais pensativo. O que estava acontecendo? Não apenas o rosto e as roupas haviam mudado, mas seus olhos também, não sua cor azul celeste, nem seu brilho, mas o que havia por trás deles. Ela repassa todos seus sonhos em sua cabeça e como eles foram se perdendo, um a um.
Ela se levanta e vai até perto do espelho. Por mais que parecesse estranho, ela estava feliz, estranhamente feliz. Gostava do que via nos seus olhos. Gostava de ter transformado sonhos perdidos em planos concretos. Gostava de saber que estava no controle da sua vida. No chão as fotos que ela deixou cair quando o celular tocou. Ela junta uma a uma com o mesmo carinho com o que guarda o passado em suas lembranças.
Volta para a cama, pega seu celular e sorri com a mensagem que a estava esperando para ser lida. Ela não esperava ler aquilo, pois ela já não esperava mais nada. Sorria com qualquer coisa, qualquer coisa surpreendia suas expectativas, pois ela não tinha nenhuma, além de viver um dia de cada vez. Ela coloca seus fones mais uma vez, e mais uma vez deita voltando seus olhos para cima. Agora a música era mais alta que seus pensamentos. Ela poderia ficar assim por horas. Pois ela se sentia diferente.
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