Às duas da tarde, em um quarto qualquer
Estava deitada analisando os detalhes do teto, quando ouviu um pensamento falar alguma coisa diferente. Não sabia se aquilo era um sentimento ou se sua cabeça só estava se juntando ao seu coração para lhe pregar uma peça. Ela não estava entendendo direito o que estava se passando e nem sabia se queria ouvir o que ele dizia, mas que escolha tinha, se aquelas imagens não paravam de gritar absurdamente alto? Que droga toda era aquela? Esperança. Expectativa. Sonhos. Tudo o que ela tinha feito questão de guardar bem no fundo da gaveta daquele móvel antigo que foi para o sótão, agora estavam de novo ali. Ela não queria saber de nada daquilo. Como elas conseguiram chegar até o andar de baixo? Levantou-se, sacudiu a cabeça na tentativa de mandar os pensamentos embora, o que só serviu para deixar-lhe ainda mais tonta. Era melhor ficar sentada. Apoiou os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos. Tentou pensar em qualquer outra coisa. Pode parecer estranho para qualquer um, mas ela não queria se sentir feliz, ela tinha medo da felicidade, a achava traiçoeira demais. Não queria dar mais uma chance a ninguém, para que a fizessem bem e depois a deixassem outra vez. Começou então a buscar em sua memória tudo que fosse doloroso e frio, lembrou de todas as vezes que viu o fim do mundo, de todas as lágrimas que cortaram seu peito, e assim foi afastando aquele pensamento que a tirou da paz. Se sentiu melhor com a dor. Seu normal era a tristeza e ela não sairia mais dali. Deitou novamente, e percebeu uma nova rachadura bem ao lado daquela mancha em formato de nuvem.
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