Há mais ou menos uma semana li um texto sobre a "lei da palmada", como era chamada até então, e o assunto ficou girando na minha cabeça e me fez refletir em como, um dia, eu mesma pude acreditar que um tapinha, às vezes, poderia ser necessário na educação de uma criança e chegar à conclusões sobre porque as pessoas usam a violência para fazer com que seus filhos as obedeçam.
Os animais só atacam quando se sentem ameaçados, e os humanos, quando deixam seu racional de lado, agem da mesma forma. Os pais têm medo de que seus filhos não sigam suas regras e se machuquem, risquem a parede, não queiram se alimentar direito, tomar banho, entre outras coisas, e têm medo, principalmente, de falharem na formação destes serzinhos que eles tem o dever de transformar em homens e mulheres "de bem". Quando, os adultos sentem sua autoridade ameaçada, por não conseguirem "ensinar" seus pequenos humanos, acabam usando da força para amedrontá-los e forçá-los a seguirem o que estão querendo que façam. O que estes não percebem, infelizmente, é que esta atitude, não educa e não traz crescimento nenhum, e sim faz com que as crianças obedeçam (isso quando obedecem), por medo e não por aprendizado ou respeito.
No entanto, a medida que o tempo passa, elas aprendem que podem fazer coisas às escondidas, para não apanhar, ou até mesmo cometem os erros sabendo que vão levar uns tapas, por perderem o medo da dor ou não se importarem com ela, até chegar à idade em que não tenham mais tamanho para apanhar, e então, não se tornam mais controláveis e passam a ter atitudes prejudiciais a si mesmos, por vontade ou por não terem aprendido que determinadas ações trazem consequências que não são boas para quem as comete.
Sendo assim, chegamos a três importantes levantamentos. O primeiro é que os pais ao agirem assim, estão tentando controlar seus pequenos e, como o texto que eu li dizia, os filhos não são propriedades dos pais, os pais devem cuidar e educar suas crianças para se tornarem adultos inteligentes, conscientes e que busquem o melhor caminho para si próprios. O segundo, o qual também era explanado no texto em que me inspirei, é que até agora este tipo de educação não deu certo, as "palmadinhas" só criaram adultos que quando se sentem acoados, sem argumentos, partem para a violência física, chegando ao ponto de matar alguém por não terem conseguido o que queriam. E o terceiro, o qual eu considero mais importante, é que crianças são esponjas, que absorvem informações de todos os cantos, todavia, principalmente, das ações que os cercam. Como alguém pode esperar que seu filho não seja histérico e agressivo, quando está diante de gritos o tempo todo ou recebendo correções físicas por atos que, apesar de saberem que são errados, não tem conhecimento da real gravidade de a terem cometido?
Não sou mãe, mas observo a educação das crianças que conheço, pois acho importante encontrar pontos positivos e negativos de uma criação, para evoluir meu pensamento antes de colocar um novo ser, no mundo, e no meu último emprego, trabalhando de recepcionista, em uma clínica, me deparei com exemplos muito nítidos de como o exemplo dos pais e a forma que eles usam as palavras refletem nas crianças, assim como o estresse e falta de paciência dos mesmos.
Por um tempo, acreditei que as crianças eram uns verdadeiros monstrinhos, que não sabiam se comportar, gritavam, choravam, rasgavam revistas e batiam coisas o tempo, por serem criaturas que não conseguiam controlar sua energia e não tinham maturidade para ficarem esperando com educação em uma recepção. Contudo, ao observar melhor, comecei a perceber que a maior parte da culpa era de quem os acompanhava, adultos que falavam alto, gritavam com as crianças, as seguravam e as chacolhavam com força para tentar causar obediência.
Foi durante essa observação, que eu conheci o maior exemplo de que os filhos são espelhos dos seus educadores, uma menina de aproximadamente três anos, que eu nem percebi que estava na sala, e seu irmão, que com dezoito anos não se parece nada com os outros adolescentes que entram por aquela porta, pois os dois são serenos e educados, realmente, diferente do que eu estou acostumada a lidar. Seus pais são dois professores que, ao meu ver, são exemplos de como os pais deveriam tratar seus filhos, conversando, explicando o porquê cada ação deve ser tomada. Quando a pequena de três anos deixou seu guarda-chuva na cadeira da recepção e um papel no chão, seu pai a pediu que pegasse seu objeto e também que juntasse o papel, explicando o lugar de cada coisa. A menina obedeceu e, certamente aprendeu uma lição. Outra vez, ela chegou cansada e braba, no colo da mãe, porém não estava agressiva, como a maioria dos bebês que eu vejo, se debatendo, querendo dar tapas e gritar, ela só ficou acolhida nos braços da mãe, sem vontade de conversar, mas sem desrespeitar ninguém.
Conhecer esta família, foi um grande passo para minha noção de aprendizado e educação. Me fez perceber, de vez, que nada é mais forte que o exemplo e o discurso. Ter uma rotina das refeições com sua família, tornar a criança acostumada com os alimentos certos e ensinar porque ela não pode comer certas comidas em certos horários, surte mais efeito que obrigá-la a se alimentar com brigas e pressão. Um filho ver os pais lendo, compartilhando de leituras e estudos desde sempre e instigado a ser curioso em aprender coisas novas, não precisará ser obrigado a ler e fazer as tarefas da escola. Da mesma forma, se uma pessoa é criada desde que nasce, em um ambiente em que as pessoas resolvem seus problemas com diálogo, no qual pode contar com conselhos e discussões inteligentes quando está com um problema e no qual ao invés de receber castigos, recebe ajuda para perceber que atos trazem consequências e auxílio para mudar suas atitudes, não vai querer tomar um rumo que lhe traga uma vida ruim e nem precisará usar de meios inadequados para conseguir o que quer, pois tem o que necessita: sabedoria.
Logicamente, criar um filho não é só isso, tem muitos poréns, várias exceções e situações diferentes, reações diversas. Obviamente, nenhum pai ou mãe será perfeito na criação de uma criança, pois no ser humano existem as virtudes, mas também os vícios, o erro é inerente a quem vive e não há quem não os cometerá. Também, em nenhum momento, afirmei que é fácil usar de argumentos, até porque para isso é preciso tê-los, é necessários ter sabedoria para transmiti-la, não há como doar o que não se possui. E não é fácil, educar um filho, não é nada fácil, e nunca vi alguém dizer isso. Educar, no sentido mais verdadeiro da palavra, exige dos pais que os mesmos aprendam, estudem, encontrem seus próprios erros e os corrijam o mais rápido possível, reclama energia, esforço, zelo cuidado, obriga entrega total.
Portanto, se o que se quer é chegar ao dia em que o mundo será povoado de pessoas íntegras e sábias, o método "mais fácil", não vai resolver. Se o que se quer é um mundo melhor, é preciso sim, o quanto antes, substituir a elevação das mão e da voz na criação dos nossos pequenos seres, pelo aumento de diálogo e conhecimento nestes contidos.
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