Diz o ditado que Deus escreve certo por linhas tortas. Eu penso que nós só não conhecemos bem as linhas pelas quais Ele escreve, e por isso as achamos tortas. E não é porque nós não as entendemos que elas não são retas, certas, perfeitas. Deus escreve certo, por linhas certas. Linhas certeiras. O que atrapalha são nossos medos, que paralisam, e fazem com que a gente dê umas tantas voltas dentro de nossa cabeça que parece que o caminho é mais um labirinto e que as linhas são mais cordas bambas pelas quais não podemos caminhar em segurança.
Medo. Temor, ansiedade, receio. Nós temos inúmeros deles, conscientes e inconscientes. Eu os enxergo como vários bichinhos redondos e pretos, com olhos grandes, braços e pernas curtinhos e pegajosos como mamonas, que são capazes de grudar em nós e umas nas outras.
Não são nem ruins, nem bons, podem até mesmo ser grandes aliados, que nos tornam cautelosos e nos salvam de perigos eminentes. Podem apenas ir de mãos dadas conosco, em momentos que o estômago embrulha, da um frio na barriga, mas a gente pensa “vai com medo mesmo”. Mas também podem ser uma grande multidão de medinhos, e alguns medões, que se acumulam, se empilham e formam barreiras imensas, capazes de tapar a luz que há do outro lado.
Para essas horas, eu poderia dizer que uma boa opção seria sentar-se, brevemente, olhando para essa barreira, cheia de olhinhos te lembrando de todos os riscos que estão do outro lado. Eles não falam e parecem até amistosos, afinal, estão te protegendo. Você pode olhar para eles, e agradecer pela ajuda que eles estão tentando te dar.
Você pega um medo no colo e diz “Obrigada medo, por tentar me proteger, mas agora você fica melhor como coragem.”
Os medões não são muito fáceis de pegar com as mãos, porque às vezes eles parecem maiores que você. Então você se levanta e olha pra cada um deles por vez e diz “Obrigada medo, por tentar me proteger, mas agora você fica melhor como cautela aqui atrás de mim”.
Agora, se você olhar para frente, sem seus medos tapando a luz, provavelmente você conseguirá ver um campo verde e vasto, cheio de oportunidades de ser feliz. Contudo, talvez você ainda tenha um certo receio de caminhar. Afinal, em que direção você vai? Com qual pé eu começo? Esse chão é mesmo firme? Será que é real?
Como se já não bastassem os medos, agora vem as dúvidas.
Eu particularmente, acho difícil falar com ou ao menos olhar para as dúvidas. Elas parecem tagarelas e não param de pular um segundo. E quanto mais eu as observo, mais elas ficam grandes, e aparecem de e por todos os lados, gritando, pulando, e me deixando confusa.
Por isso, minha tática com elas é diferente. Se eu fecho os olhos e estendo as mãos, elas parecem caber todas ali, sobre as minhas palmas, ainda agitadas e eufóricas, mas inofensivas. Nesta hora eu as entrego para Deus, pois Ele sabe melhor do que eu como lidar com elas.
Mesmo nas mãos dEle, elas não somem completamente. Em meio à toda luz ainda é possível ver aquelas danadinhas agitadas e falantes, só que agora eu sei que elas são irrelevantes, pois não são elas que me trarão as respostas e sim o caminho que surge pouco a pouco embaixo dos meus pés.
É um caminho aparentemente curto, no qual só é possível eu dar mais um passo, mas cada vez que eu dou um passo, mais um pedacinho de caminho surge para eu dar o próximo, e então outro e outro. Por fim, quando eu olho pra trás há um caminho lindo, um pouco maluco, com algumas linhas que eu não entendo muito bem. As tais linhas tortas de que o ditado fala, mas que como eu disse no começo, não podiam ter sido mais perfeitas.