Se nasceu menino e quer ser menina é transexual. Se nasceu menina, e gosta de menina, é gay. Se nasceu menina, quer ser menino e gosta de menino é transexual e gay. Se gosta de gente, é bi.
É uma necessidade sem fim de rotular pessoas, seguida de uma indignação com relação a "este mundo que já não é mais o mesmo", quando não se consegue fazer com que essas criaturas, chamadas seres humanos, parem dentro dos potes onde foram colocados com a etiqueta de sua categoria.
Estava tão mais fácil quando os menininhos ficavam vestidos de menininhos e gostavam (ou diziam que gostavam) só de menininhas e as menininhas ficavam vestidinhas de menininhas fazendo seu trabalho como menininhas. Todos ficavam (aparentemente) quetinhos nos seus lugares, até que cansaram. Por mais disciplinado que qualquer um seja em manter as aparências, chega um momento que a necessidade de ser quem se quer ser fala mais alto, e quando é uma necessidade conjunta, ela não só fala alto, ela grita.
E a culpa parece ser das pessoas, que não param quietas, sendo que o real problema está nos rótulos. Onde está a explicação para tantos rótulos? Qual a utilidade deles, quando não se trata de avisar a alguém que aquele frasco contém veneno? Nunca foi visto categorização de pessoas quebrar preconceitos, provocar aceitação. Categorização sempre serviu para separar, deixar bem claro onde cada um deve ficar e o que deve fazer. Rótulos em pessoas, não explicam nada, o que explica algo são as próprias pessoas falando, dividindo suas experiências e mostrando que somos muito mais exceções que regras.
Ser hetero, homo, bi, trans não diz nada sobre ou a uma pessoa, e até chega a confundir as próprias pessoas a quem se referem que, às vezes, nem sabem em que categoria se encaixam. Então, quem elas são? Nós somos, quem sentimos ser, o que queremos vestir, a aparência que queremos mostrar, o amor a quem e como queremos transmitir. Somos pessoas, todas dentro do mesmo pote, com o mesmo e único rótulo grande, no qual se lê "GENTE".